Papo médico #05


   

“Você consegue expressar com naturalidade aquilo que eu gostaria de gritar para o mundo, mas não consigo, porque a chateação é tão grande que as palavras se embaralham… Identifico nas suas frases a mesma indignação experimentada todos os dias por mim!”

Talita Alves Mesquita

(sobre o Meus Nervos!)

 

      Neste “Papo médico” reproduzo na íntegra um email muito especial, que recebi da Dra. Talita Alves de Mesquita. Vocês não fazem ideia do quanto fico feliz por ter me tornado, de certa forma, uma figura que representa o desabafo e a luta da classe médica. Gostaria de compartilhar com vocês o meu sentimento e o de muitos outros médicos através das palavras da Talita. Por favor, leiam até o fim!

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Olá!

      Sou médica formada há um ano, e quero que você saiba que sua arte me deixa profundamente aliviada… Você consegue expressar com naturalidade aquilo que eu gostaria de gritar para o mundo, mas não consigo, porque a chateação é tão grande que as palavras se embaralham… Identifico nas suas frases a mesma indignação experimentada todos os dias por mim! Isso me faz ter a certeza de que não sou um ET, e também não estou ficando louca. Acabo sublimando minha raiva diária dessa gente crua, desprovida de qualquer porção de sensibilidade, acessando seu site.

     Então… Te agradeço por ter a coragem e ânimo de se expressar de maneira tão brilhante. Saiba que essa realidade de injustiças e desrespeito vivida pelo médico não é algo regional. Já rodei esse pais e é sempre a mesma coisa.  Ah! Também não é exclusividade do SUS! Estava na espera de um consultório privado acompanhando um familiar quando comecei a escutar as mesmas murmurações tao proferidas nas esperas de posto de saúde: “Esse idiota desse médico que não me chama, me faz esperar horas, e um horror! E ainda cobra caro blá blá blá.” Só que esse cara não era um semi-analfabeto que vive de bolsa família! Era um militar uniformizado de alta patente…

     Quando é que sairemos do tronco? Tô cansada de apanhar trabalhando… Já fui chamada de “puta vagabunda” num plantão de feriado… O que me fez pensar que se realmente fosse “puta vagabunda” estaria sendo mais respeitada e com certeza ganhando beeem mais (Fica aí ate uma sugestão para uma tira: uma prostitua de luxo recebe setecentos reais por programa de uma hora. Eu recebo 400 num plantão de 12). Não tem explicação para tanto desrespeito. Estão nos tirando o direito de ser humanos. Mas enquanto apanho, uso suas tiras como analgésico. Que Deus ilumine sempre seu trabalho! Parabéns!

 

Talita Alves de Mesquita

(Enviado via iPad)

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37 respostas para “Papo médico #05”

  1. Acho curioso como alguém pode reclamar por ganhar 400 reais por 12 horas de trabalho! A maioria dos trabalhadores só consegue tal ganho com meio mês de trabalho! Acordemos para a realidade! Não vivemos em um país rico. Trinta e poucos reais por hora é uma realidade para pouquíssimos, certamente não há do que se reclamar. Agora, com relação a falta de condições ou mau tratamento, bem, daí a história muda, esse é um problema sério, todo profissional merece e deve ter um ambiente de trabalho adequado e, acima de tudo, ser respeitado.

    • Você deve estar brincando.

      Amigão, você sabe o que é necessário pra formar um médico?

      Primeiro, você precisa passar no vestibular mais concorrido das carreiras. Nunca vi prova com menos de 50 por vaga, e na minha época esses números chegavam a 110. Se considerarmos aí um curso de 60 vagas, isso significa ter que vencer entre 2900 e 6000 candidatos, normalmente extremamente preparados (pois já é lugar-comum que quem quer fazer Medicina precisa se dedicar).

      Depois disso, são seis anos RALANDO ATÉ A BUNDA CAIR, pra usar uma expressão estrangeira. Estudo fortíssimo de anatomia, fisiologia, histologia, farmacologia e um monte de outros “logia”. Só o peso dos livros já assustaria 95% da nossa analfabeta população.

      Uma vez formado, começa a experiência. Já imaginou um médico em começo de carreira pegando seu primeiro paciente de emergência? Aquele cara com o caco de vidro atravessado no braço, aquela bala que perfurou o pulmão, aquela facada no fígado? O primeiro paciente entubado? Já pensou como está a cabeça desse cara, sabendo que do procedimento dele pode significar não apenas vida ou morte do paciente, mas também sua qualidade de vida dali em diante?

      Isso tudo desconsiderando especializações, residências e etc. Já imaginou que legal meter uma furadeira e uma serra elétrica no crânio de uma pessoa, abrir seu cérebro, fazer uma incisão cujo erro de milímetros pode deixar sequelas irreversíveis? Já pensou como deve ser receber a notícia de que aquele paciente teve complicações porque você deixou passar um detalhe que, num trabalho mais burocrático, significaria não mais que uma bronca do chefe?

      Tudo isso pra ganhar igual ou menos a um mecânico ou um pedreiro?

      Não? Não consegue ver a diferença entre o trabalho do médico e o seu? Tá, então vamos olhar sob outra óptica: você está doente, vai ao médico consultar. Você confiaria se ele cobrasse apenas oito reais a consulta? Ficaria seguro com o diagnóstico? Iria pra casa tranquilo com seus sintomas?

      Médicos não têm doutorado, mas mesmo assim eu, em minha formação acadêmica, faço QUESTÃO de chamá-los de doutor. Porque, no meu entendimento, das profissões acadêmicas essa é a mais pesada.

      Estão começando a tratar a classe médica como há séculos tratam a classe dos professores. Se você não pagar bem, os bons profissionais vão fugir, ou da profissão, ou da acessibilidade. Em ambos os casos, os ricos continuarão tendo acesso ao melhor, que será regiamente pago. E o resto que se foda.

      Menos professores e menor acessibilidade à educação significa um mau prognóstico na sua qualidade de vida futura. Menos médicos ou e menor acessibilidade à saúde significam morrer e ver morrerem seus entes queridos nos momento de maior aflição.

      • Fex, entendo suas colocações, entretanto, cada profissão tem seus riscos, investimentos e sacrifícios. Não acho interessante colocar a profissão médica acima de nenhuma outra, como também não acho que nenhuma outra deve ser colocada acima da profissão médica. Cada qual tem a sua importância.

        Não adianta olhar as coisas só sob o aspecto médico, com perguntas que quem responde é o médico. Quem vai cuidar do fulano e ciclano que passar por isso ou aquilo? É possível, sem esforço, fazer o mesmo raciocínio com qualquer profissão. Basta pegar aquilo que é o seu mister e colocar as questões sob esse ponto de vista. Não dá. Toda profissão é importante, todo profissional merece respeito e todo bom profissional deve ser bem remunerado, não importa se é médico, pedreiro ou lixeiro. Agora, o dinheiro não é infinito, super remunerar alguém quase sempre significa sub remunerar outro. Salários próximos (entre as profissões) e compatíveis com o bom serviço prestado é o caminho. Todo o resto é papo de corporativista.

        E, por fim, respeito à opinião alheia é algo muito básico, não é preciso ser médico para saber disso. Dei-lhes a minha, não me importo em ouvir as suas, mas sem subir o tom, por favor (essa observação não se aplica necessariamente ao comentário que estou respondendo).

        Abraços a todos os interlocutores.

        • Espero mesmo que não se aplique a mim, porque não subi o tom. Posso ter usado alguns maiúsculos enfáticos ou expressões chulas, mas não tive a menor intenção de te ofender.

          Acho que seu argumento tem seu ponto, mas falha nesta questão de que todas as profissões devem ter igual retorno financeiro. Aliás, esta égide foi um dos fatores responsáveis pela queda dos regimes comunistas: se você nivela todas as compensações, a tendência estatística é que as pessoas migrem para a atividade mais fácil. Se um atendente de loja ganha o mesmo que um médico, só o que teríamos por aí seriam atendentes de loja, porque exige muito menos preparo, esforço e responsabilidade do que a medicina.

          Da minha parte, não há que se falar em corporativismo. Primeiro, porque não sou médico. Segundo, porque defendo posições, não classes. Só pra dar um exemplo, sou absolutamente contra o disparate que é o ato médico, este sim, fruto de elitismo.

          Apenas aponto o fato de que se você não pagar o justo a determinadas profissões, ou não terá profissionais para exercê-las, ou os terá em péssima qualidade. Eu dei como exemplo o magistério porque é um caso que eu conheço, mas há muitos outros. Pra dar outro exemplo pessoal: ganho hoje, num cargo público de nível técnico, o dobro que ganhava como biólogo, e o triplo do que ganhava como professor. E eu sinto dizer, mas acho que o país pagou a minha ótima educação (pois sou formado em escola pública) pra me ter carimbando papel, sendo que eu tenho certeza que estaria contribuindo muito mais num laboratório ou numa sala de aula.

          Se você analisar, isso até reforça o seu argumento de que a classe médica não é a única vilipendiada no país. E não é mesmo! Mas isso não os desmerece de reivindicar melhores condições de trabalho e melhores salários. O que se narra aqui, seja nas tirinhas, seja nos textos, é o ponto de vista de um médico e seu contexto de trabalho. Se a sua profissão tem problemas, a internet está aí é pra universalizar o direito de expressão de todo mundo.

          O que eu sei é que quando estou doente, quero ser atendido por um médico satisfeito, competente e dedicado. Não quero ser mandado embora com uma receita genérica depois de três minutos porque ele ganha uma merreca por consulta e quer compensar, e muito menos dar com a cara na porta porque falta médico.

          • Alguns dos pontos que você levantou são muito delicados. Acho que meus comentários geraram algumas confusões. Vejamos, quando digo que acho que todas as profissões deveriam ser igualmente recompensadas, não estou dizendo que acho que isso é possível de ser feito. Outra coisa, não digo que os profissionais, por mais bem pago que eles possam ser, não devem querer melhores salários. Juntando os dois pontos, o que confronto é: argumento de melhoria salarial: 1) baseado na premissa de que uma profissão é melhor que a outra; 2) baseado no fato que se ganha pouco para o que se faz (no caso de profissões que recebem muito acima da média do brasileiro comum). Era só disso que eu estava falando, é um mais ou menos como: reclame do seu, mas se lembre de olhar (um pouco) para o outro.

            Mas você veja, a maioria dos que me respondeu não o fez como você. Mais fizeram xingar e ofender. Agora, imagine ser atendido por um médico assim? Se ele não consegue lidar bem com um qualquer (no caso eu) que escreve uma opinião sua num blog de humor, como será que ele lida com questões complicadas do dia-dia da sua profissão? Medo.

            Abraço.

    • Acho curioso como aparece sempre um imbecil para fazer comentários como os seus. Deixe de ser vagabundo e invejoso, seu comunista dos infernos.

      • Seu comentário completo e muito estruturado e seus argumentos, muito bem colocados, mostram que, de fato, o imbecil sou eu. Quando ao trabalho, posso apostar que passo mais tempo nele que você.

        • Deve passar mesmo, 40 ou 44 horas semanais ?
          Um residente faz em media 60-72 horas semanais.
          Um interno faz 60 horas semanais.
          Um medico em inicio de carreira chega facil nas 84 horas semanais. E vc ? quantas horas?

        • “Alguns dos pontos que você levantou são muito delicados. (…) quando digo que acho que todas as profissões deveriam ser igualmente recompensadas, não estou dizendo que acho que isso é possível de ser feito.”

          Prêmio “sei-lá-entende?” completo! Isto te dá direito a uma viagem para Cuba!

          Que bom que mesmo sendo um comunista invejoso (pleonasmo?), pelo menos compreendeu a simplicidade do meu comentário! Afinal não preciso me delongar mais com gente da sua laia comunista.

      • A China é a segunda maior economia, e podemos dizer que é mais rica que o Japão? Claro que não, não adianta olharmos a questão sob o ponto de vista de um indicador absoluto. Em termos de renda percapta não passamos da quinquagésima posição, em IDH, octogésima… sem contar a desigualdade social e outras coisas por aí afora…

  2. Caro Silvio,

    Todos tem direito de reclamar de quanto recebem, independentemente de quanto receba o profissional “x” ou “y” ou quanto boa ou ruim esta a situação do país. Com médicos não é diferente. Antes de questionar a reclamação da colega, a qual eu faço eco, informe-se um pouco mais sobre a formação de um medico desde a faculdade até sua especialização. Analise criteriosamente os “biscates de luxo” que sao os trabalhos (na essência da palavra trabalho, pois emprego praticamente não há). Leis trabalhistas? Piada.
    Faço das palavras da colega Talita as minhas. Tenhamos fé e coragem para continuar a luta diária com muito amor, sensibilidade e paciência apesar de tudo.

    P.S.: a essência do email foram as más condições de trabalho e a falta de educação de alguns pacientes, fiz esse comentário centrado no comentário colocado pelo senhor acima.

    Abraço.

  3. O Silvio certamente não é da área médica,então não está familiarizado com esses detalhes de remuneração… sinceramente acho que ele deveria ter ficado quieto.Ele não tem ideia dos custos que envolve o exercício da Medicina,em termos de deslocamento,impostos,eventuais processos judiciais,etc…mas estamos numa democracia e todos têm direito de se manifestar,não é?

  4. Sempre gosto de exemplificar as situaçoes, então vamos lá.
    O sr Silvio disse que um trabalhador leva meio mes para ganhar os 400 reais do plantao de um medico, pois bem, este medico estudou no minimo 6 anos em regime integral, para exercer uma profissao que lida com responsabilidade que nenhuma outra tem, vida. Ninguem pensa na pressao psicologica que o proprio medico se coloca ao lidar com a vida do outro a cada minuto. Nao prescrevemos receitas e emitimos atestados como profissao. Cuidamos do ser humano.
    Quando seu filho está doente ou caiu de cabeça no fundo da piscina, vc quer o melhor cirurgiao para atendê lo, certo? Esse cirurgiao passou pelo menos outros 5 anos alem da faculdade para ganhar 400 reais em meio mes para lidar com crianças em coma. Ou o trabalho/ estudo/ residencia dele tem menos valir por nao vivermos em um pais rico?

      • Eu duvido muito. Qualquer médico deve ter devorado no minimo 20 mil paginas soh nos dois ultimos anos de internato.

  5. Eu também fico muito irritado quando tenho que esperar demais para ser atendido.
    Principalmente quando é consulta marcada.
    Cacete, se marca minha consulta as 08:00 prá me atender as 11:00, por que diabos então não marca de uma vez as 11:00?
    Eu sei que muitas vezes isso nem é culpa do médico, mas de quem cuida da agenda dele (clínica, secretária, etc)

  6. Nossa. eu realmente nunca pensei que as pessoas tratavam os medicos assim.
    Sempre que entro no site vejo e fico chocada, se de fato tudo isso acontecem com os medicos.
    Nunca me irritei ao esperar para ser cunsultada, e diversas vezes morria de dor ao esperar, mas sempre sentia um alivio ao ver o rosto dos medicos que me atendiam, e sempre fiquei e ainda fico muito agradecida. Eu ia ao medico com dor e voltava sem. simples assim. E ate mesmo para apresentar exames que as vezes demoram horas e horas, sei que nao é culpa dos medicos entao fico na paz do senhor rsrs.

  7. Pois é, realmente se formos analisar por este ponto de vista, o qual ganhamos “um pouco mais” que algumas profissôes, ok! Lidamos com vida, pedreiros com construçôes, se não construirem bem e houver um acidente com vítimas, quem os socorrerá…Se ganhamos mais q um açougueiro e ele tiver um acidente na serra quem o atenderá….Ganhamos mais q uma secretária, caso ela ou filho necessitem atendimento por qualquer raios das milhares de enfermidades as quais temos q estudar, quem os atenderá…Agora, se um político passar mal, nós, médicos não prestaremos atendimento a eles !! Sim, pq segundo o Sr. Sílvio se trata de um privilégio de salários, então segundo essa lógica, os políticos ganham muito mais q um médico e daí!!Da mesma forma, mesmo ganhando muitoooo mais e não tendo q ralar , se sacrificar e estudar, coisa q eles não fazem ( em grande maioria), mesmo assim, será um médico q lhe atenderá, sem se preocupar d quem se trata, de qual sua cor ,religião, profissão ou se merece ou não atendimento, essa é a diferença….Amor a uma profissão altruísta, com incontáveis responsabilidades e muito empenho….

  8. Sílvio, o problema do seu comentário é que você reduz a luta médica por uma melhor remuneração a um choro de barriga cheia, como se não tivéssemos direito sequer a reclamar. Estamos no capitalismo, então o valor dos serviços está sim sujeito à lei de mercado, logo o valor do trabalho médico não tem somente a conotação subjetiva bem colocada pela Bruna (só quem tem uma dor grande, um problema de saúde de urgência ou uma doença que não vai embora sozinha para reconhecer o valor do trabalho do médico), mas também está sujeito à comparação com o valor social dos demais serviços, assim como deve ser medido pela sua disponibilidade, acessibilidade, custos de formação da mão-de-obra qualificada, responsabilidade do trabalhador e riscos envolvidos na prestação do serviço (risco biológico para quem os presta e riso de dano à saúde para quem os recebe).

    Uma coisa é você dar sua opinião utópica de que todos deveriam receber a mesma coisa, mas o mundo não é socialista, as pessoas não são iguais e o valor dos serviços não é o mesmo.

    Baseado no que diz, ninguém pode lutar por uma remuneração melhor, já que existem milhões de miseráveis que não recebem nenhum salário e não possuem nenhum patrimônio. O mundo não funciona assim. O mundo funciona da seguinte forma: milhões de pessoas se acotovelam para ver Neymar jogar; então, seu trabalho tem muito valor e ele ganha muito, independentemente do valor construtivo ou filosófico de chutar uma bola. Ninguém quer morrer ou sentir dor, nem perder funções ou capacidades do seu corpo; os profissionais que detém o conhecimento e sabem executar os procedimentos e prescrever as drogas que eliminam a dor e mantém o nosso corpo funcionando bem são os médicos. Então, lutaremos com todas as forças para recebermos o que consideramos justos pelo valor social do nosso trabalho e pelo que custou e custa termos nos formado e continuarmos sendo médicos. Todos querem ter prosperidade, e isso para os médicos custa muitas horas diárias de trabalho, estudo, afastamento da família, risco biológico, risco de processos, risco de agressão física, risco nas estradas, muita pressão e cobranças dos pacientes, que muitas vezes não entendem que a medicina não é uma ciência exata e nos cobram resultados imediatos e impecáveis, além da tendência atual de culpar cada vez mais os médicos por processos naturais da vida: a dor, doença e morte.

    Sua opinião, num mundo onde todos fossem iguais, não existisse riqueza nem pobreza e o valor das atividades humanas fosse igual, seria sensata: os médicos estariam procurando um privilégio que ninguém mais tivesse. No mundo real, sua opinião é ridícula. Só mostra que você nunca esteve em uma situação onde precisou de um serviço de grande valor e pouco acessível (principalmente se for de boa qualidade), como os serviços de um médico na hora da doença, de um advogado na hora de lutar pelos seus direitos, de uma boa escola para seus filhos numa cidade grande, entre outros. Se preciso pagar caro para ter um carro, uma casa, pago impostos e serviços caros, porque me desvalorizarei e aceitarei cobrar pouco pelos meus serviços, sabendo o quão custosos e importantes ele são? Porque o Sílvio ou outros masturbadores mentais sem noção da realidade acham que somos bebês chorões?

    • Paulo, seus argumentos poderiam ser usados por qualquer profissional, qualquer trabalho tem o seu valor, sua importância. Só dentro da área de saúde, o próprio médio, melhor remunerado que praticamente todos os demais profissionais da área, não conseguiria exercer o que tão custosamente aprendeu sem a ajuda dessas pessoas. Entende? Briga por melhor remuneração e tudo mais é legítima, de modo geral, toda profissão tem disso. Não é isso que descaracterizo. O que acho muito curioso (e gostaram dessa minha expressão, densamente copiada nas respostas) é virem com um discurso pseudo-moral, como se essa briga tivesse esse valor, como se os médicos devessem (obviamente) ganhar mais. Isso não é óbvio, pelo contrário, o óbvio para mim que os bons profissionais, todos, recebam de acordo com sua competência e não a função que exercem. Dizer que 400 reais por 12 horas é pouco chega a ser uma palhaçada perto de gente que desempenha sua função de maneira tão competente quanto (ou às vezes até mais) por bem menos que isso. Esse profissional, e o de 400 reais/12 horas, e a prostituta, todos vão brigar por melhores salários, agora, um deles dizer que deve ganhar mais que os outros porque seu ofício é mais importante, daí é outra história.

      • Silvio, LEI da OFERTA e da PROCURA!
        Se esse conceito é muito dificil pra você entender vou desenhar…
        Põe um anúncio pra contratar um dentista, fisioterapeuta ou enfermeiro para pagar os tais 400 reais por 12 horas. Faltarão senhas para atender os que estarão no fim da fila.
        Agora faça a mesma oferta para médicos… apenas os que morarem perto e não necessitem de longas viagens para chegar ao local de trabalho estarão dispostos a conferir as condições de trabalho.
        Tem pouco médico no Brasil esse é um fato, como tudo que é raro torna-se mais valorizado. Por isso sua Presidente quer tanto facilitar a entrada de médicos de fora no Brasil.

        A jornada é árdua meu caro debatedor. Poucos são os que chegam ao fim.

  9. Pois é, Silvio, como eu falei: o Ronaldinho Gaúcho com certeza estudou muito menos que nós dois juntos. O critério não é o que eu ou você achamos que contribui mais para a humanidade, e sim o que diz a sociedade, o mercado. Por entender isso que não estou esbravejando pelo fato de jogadores de futebol estarem reclamando por ter salários atrasados quando já têm milhões de patrimônio.

    O problema é que o depoimento da médica no post em nenhum momento embasou sua indignação em alguma suposta importância superior e demasiada do seu trabalho, comparado com o dos outros profissionais, quem trouxe esta tônica foi você. Não perco meu tempo comparando meu salário com o de outros profissionais, apenas luto pra receber o que acho justo para a minha profissão. E que referência uso para isso? O mercado. Por ele posso ver que o valor que a colega recebe está bem inferior ao que recebi em todas as cidades onde trabalhei em 8 anos de profissão. E sou muito grato por termos o poder de protestar e algum poder de barganha para que este protesto seja ouvido e atendido. Aliás, sinto falta de que mais colegas não só protestem, mas façam greve, peçam demissão e vão para lugares onde se paga melhor (como eu fiz recentemente), assim mostraremos a nossa força. Meu problema não é tentar diminuir ou frear o aumento do salário alheio por razões ideológicas, e sim que poucos colegas assumam uma postura mais acirrada em relação à defesa de boa remuneração e condições de trabalho. Repetirei: quem ganha menos deve isso ao valor social (quantas pessoas precisam ou desejam o seu serviço, e quanto estão dispostos a pagar por ele?) do seu trabalho e à quantidade de pessoas disponível para realizá-lo. Se você se demite por protesto mas há mais 100 esperando para ocupar o seu lugar, provavelmente não vai dar pra conseguir salário melhor.

    E o pior de tudo é que, dos “pobres coitados” que ganham num mês o que eu ganho em 12 horas de plantão, boa parte contribui bastante para a perpetuação deste problema, porque geralmente dá mais valor a TVs de LED, Tênis Nike, gasta fortunas para equipar seu carro popular e para sair 3 dias num bloco de carnaval, ou alguns juntam dinheiro o ano todo pra assistirem a final do campeonato de futebol com o seu time de coração. Porém, não dão o mesmo valor à educação do seu filho, e por isso os professores também têm muito o que reclamar do seu salário, comparado com o grande valor do seu trabalho.

    Se você estudou mais que eu e passa mais tempo no seu trabalho que eu, e se ganha menos que eu ou do que acha que mereceria, deve entender que é muito mais fácil tentar lutar por um salário melhor ou então trocar de profissão, do que mudar todo o sistema econômico mundial.

    • Paulo, tem muita coisa se misturando nas respostas.

      Se você diz que sua briga tem base o mercado, então tem que ver que é esse mesmo mercado que está pagando 400 por 12 horas e que isso tem uma inserção em certa localidade, ou então a moça do e-mail certamente optaria por outro lugar que pagasse melhor. Além disso, se formos usar esse raciocínio, não fará sentido ficar brigando por salários assim ou assado, já que o mercado é que dita a regra.

      Outra coisa, não estou discutindo o que é, e sim dando minha opinião sobre o que acho que deveria ser. São coisas bem diferentes. É possível discutir a questão do ponto de vista mercadológico, ok, só não era isso que eu estava fazendo.

      Por fim, não sei se estudei mais que você, nem se trabalho mais que você, nem estou reclamando do que ganho. A minha opinião não está baseada nisso, não quero mudar o sistema econômico mundial para isso. Na verdade nem disse exatamente que quero, só disse, como já respondi para uma outra pessoa, que não considero pertinente discutir salários em termos de “melhor profissão” ou de “ai de mim, ganho só trinta e poucos a hora”, pois a realidade desse tal mercado é a mesma que faz com que muita gente ganhe menos que isso. Meu primeiro comentário foi por conta dessa segunda coisa, alguns outros, por conta da primeira (daí não mais falando do e-mail, mas de respostas que me deram). Mas, como disse no início desta resposta, muitos assuntos se misturaram por aqui, e acho, que no fim das contas, nem todo mundo está falando da mesma coisa. E, aí, no fim das contas, podemos concordar mais do que parece, mas a confusão não deixa. Nesse caso, já é hora de parar.

  10. As pessoas dizem que a saúde é o mais importante,que não tem preço e blá, blá.
    Mentira. O médico e demais profissionais de saúde ganham mal porque a sociedade não valoriza a saúde. As mesmas pessoas que são capazes de vender um carro para ver um time de futebol jogar no Japão são as primeiras a churumingarem quando um médico cobra 200 reais em uma consulta. A hora do médico custa em torno de 35-50 reais. Uma vergonha. Médicos fazem salários de 13-17 mil porque trabalham 100-120 horas por semana!! Na hora de sermos remunerados, temos que ser bonzinhos, sacerdotes e etc. Na hora de sermos cobrados, a sociedade transformou a medicina em mera relação de consumo. Os médicos são formados para trabalharem muito por pouco. Por isso aceitam 50 reais a hora quando a de um mecânico é 100. Sem contar que o mecânico dita o valor. O médico aceita o valor que os outros (gente que não tem noção do que uma anamnese e um exame físico) impõem.

  11. Aqui em PE, há muitos municípios da região metropolitana do Recife que paga tão mal que não tem médicos nas emergências. Ou seja, como a sociedade não valoriza nossa profissão, quando criancinhas e adultos levarem um tiro, se afogarem, convulsionarem, se queimarem e etc terão que se deslocar uns 30-40 Km para serem atendidos. Caca povo tem o que merece. Mesmo cara que chama o médico de mercenário porque ele cobra 100 reais na consulta paga 800 reais em uma hora de show de um cantor qualquer. Pois então, a sociedade que sofra as consequências. Já recebi criança morta, no hospital em que trabalho, pois a mesma levou um choque elétrico e no local que morava o hospital estava sem médico. Lá, pagam 40 reais a hora.

  12. As pessoas adoram desqualificar nossa profissão. Por que nos procuram quando levam um tiro, convulsionam, se afogam e etc. Deveriam procurar um engenheiro, um advogado, um jogador de futebol. Aposto que esses cobram mais que nós por suas atividades mas nós é que somos malvados, mercenários e etc. vai entender…………

  13. O Sílvio trabalha 90 horas por semana e ainda tem tempo para ficar excretando pelos dedos aqui no Blog… É um mito esse cara! Incrível. ¬¬’

  14. Não sou favorável a esse corporativismo e arrogância dos médicos(se dizer doutor sem doutorado, etc)… Mas tenho de concordar que é pouco. De fato, vamos às contas. Se pegarmos o salário/hora do tal plantão e extrapolarmos a um regime de trabalho “padrão”(jornada de oito horas, vinte e dois dias no mês)

    (400/12)*8*22 =~ R$5866,00
    O salário de um engenheiro industrial(eletrônica, mecânica, telecom…) formado em boa universidade é no mínimo R$4960, mas estando ele estabelecido(botamos um ou dois anos numa empresa decente) temos uns dez salários mínimos, atualmente R$6200, sem questões de insalubridade, horas extras, horário noturno ou stress relevante.

    Enfim, tens meu machado.

    • Bom, nesses plantoes voce nao tem carteira assinada, nao tem direito a ir ao banheiro, almocar ou escovar os dentes. Ficar doente entao… Voce perde o salario do(s) dia(s) e ainda vai ficar se humilhando pelo telefone pra provar pra outro medico que voce esta doente….
      Se morrer um paciente tera de ir a delegacia para prestar depoimento e responder durane anos eventualmente… Ralmente igualzinho a um engenheiro ou advogado. Quanto ao titulo de doutor, eu espero respeito quando estou fazendo algo tao relevante quanto cuidar da vida de outro ser humano, ainda que ele normalmente nao se importe com a minha e de minha familia.

  15. Quando é que sairemos do tronco? Tô cansada de apanhar trabalhando… Já fui chamada de “puta vagabunda” num plantão de feriado… O que me fez pensar que se realmente fosse “puta vagabunda” estaria sendo mais respeitada e com certeza ganhando beeem mais (Fica aí ate uma sugestão para uma tira: uma prostitua de luxo recebe setecentos reais por programa de uma hora. Eu recebo 400 num plantão de 12). Não tem explicação para tanto desrespeito. Estão nos tirando o direito de ser humanos. Mas enquanto apanho, uso suas tiras como analgésico. Que Deus ilumine sempre seu trabalho! Parabéns!

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