Esse não é o relato de um médico, mas de uma funcionária da administração de uma unidade hospitalar. Postei na íntegra pra verem o que a gente tem que aguentar… Em algumas situações, a coisa fica tão feia que dá vontade de jogar tudo pro alto e partir pra cima.
Pra terem ideia; certa vez um cliente me xingou de “filho da puta” e ainda disse assim: “Você é um cagão mesmo! Homem que é homem não fica quieto com um xingamento desses! Bundão!” …Fiquei meses arrependido por não tê-lo socado até ficar irreconhecível, mas hoje vejo que foi a melhor coisa que fiz.
Eu poderia deixar um comentário no seu blog, que daria mais certo, mas não sei se vou escrever muito ou pouco, então, vamos ver…
Adorei seu trabalho das tirinhas, aprendi muito sobre a outra parte do meu serviço, já imaginava que os médicos sofriam tanto quanto o pessoal da administração, mas não é “tanto quanto”, é igualzinho!
Salvo claro, alguns casos que o paciente grita na recepção e fica mansinho no atendimento… Mas, bom, até entendo; afinal, nunca ocorre a esses pacientes que o prontuário deles vai pro final da fila, ou direto pra sala da chefia quando são malcriados, não é? (O máximo é que quando falamos que o prontuário foi pra sala da chefia, eles acham que “Ah, agora consegui bater o pau na mesa”, mas a verdade é que a chefia enrola mais que a recepção, rsrsrs!)
Vou deixar aqui uma história, vai que te inspirar pra uma tirinha, posso enviar mais algumas, se te interessar, como fonte de inspiração…
Estava lá eu, linda e faceira na recepção, quando me chega um garoto, de lá seus… Sei lá, 25 anos! E já chega na minha mesa, bate com o punho fechado e berrando tanto que eu mal conseguia entender o que ele tava dizendo… E aí, segue a resposta pré-programada:
-O senhor tem o cartão azul do hospital?
-É DISSO QUE EU TO FALANDO, SUA PUTA, É TODO MUNDO SURDO NESSA MERDA?
-Olha, eu não estou faltando respeito com o senhor, quer dizer, VOCÊ, então você ABAIXA O TOM DE VOZ NA MINHA RECEPÇÃO, fui clara?
(paciente olha pra trás pra ver se alguém incentiva, mas só há um monte de velhinhos cochichando “se a gente tá esperando quem ele pensa que é? Na minha frente ele não vai passar, que eu cheguei antes” e etc…) …respira fundo e…
-moça, o médico pediu pra fazê o cartumazul (sic) e nufeiz (sic) praieupeganti (sic???) o cartumusus (sic!!!!)…
-O senhor faz o cartão do SUS do outro lado da rua, tem uma UBS bem ali. É lá.
-Mazintão (sic) eu fui pra vê, mas num podi semteumacontapaga (é sem espaço mesmo, eles falam tudo de uma vez, you know)
-E o que eu posso fazer, senhor? Pegue em sua casa uma conta paga e traz!
-INTÃO, VACADESGRANHA, ARREGAÇADA! EUNUMTENHO CONTA!
-Ok, senhor, perdi a paciência, o senhor fica em casa morrendo então, se vira!
(paciente impaciente aponta o dedo na minha cara)
-CÊNUMFALAASSIM CUMEU NÃO, QUE EU TOLHIPAGANU, VAGABUNDA, FAZTEUTRABALHOQUIEUTOPAGANO!
(já mandando tudo pro inferno, retruco)
-VAGABUNDO É VOCÊ, SEU MERDA, NÃO PAGA UMA CONTA, VIVE DE GATO DA ÁGUA E DA LUZ QUE EU PAGO, IDIOTA, FAZ O SEGUINTE, PRA VOCÊ NÃO VOU TRABALHAR, CERTO?
(puxo uma moeda de 25 centavos do bolso – era a grana que eu tinha)
-Toma, tá aqui a parte do meu serviço que você acha que pagou. E tô sendo legal, pode ficar com os 15 centavos que seriam o troco.
Paciente sai xingando Deus e o mundo… Mas me deixa em paz!
Se quiser mais contos, diga, que eu mando! (Resposta do Doutor: QUERO SIM!!! \o/)
Abraços!
Alê Lobo
(Servidora pública em auxílio-doença pela psiquiatria… Juro que fiquei louca!)