Papo Médico #4


Esse não é o relato de um médico, mas de uma funcionária da administração de uma unidade hospitalar. Postei na íntegra pra verem o que a gente tem que aguentar… Em algumas situações, a coisa fica tão feia que dá vontade de jogar tudo pro alto e partir pra cima.

Pra terem ideia; certa vez um cliente me xingou de “filho da puta” e ainda disse assim: “Você é um cagão mesmo! Homem que é homem não fica quieto com um xingamento desses! Bundão!” …Fiquei meses arrependido por não tê-lo socado até ficar  irreconhecível, mas hoje vejo que foi a melhor coisa que fiz.

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Email que recebi dia 01/02/2012:

Olá “Doutor Nervos”, tudo bem?

Eu poderia deixar um comentário no seu blog, que daria mais certo, mas não sei se vou escrever muito ou pouco, então, vamos ver…

Adorei seu trabalho das tirinhas, aprendi muito sobre a outra parte do meu serviço, já imaginava que os médicos sofriam tanto quanto o pessoal da administração, mas não é “tanto quanto”, é igualzinho!

Salvo claro, alguns casos que o paciente grita na recepção e fica mansinho no atendimento… Mas, bom, até entendo; afinal, nunca ocorre a esses pacientes que o prontuário deles vai pro final da fila, ou direto pra sala da chefia quando são malcriados, não é? (O máximo é que quando falamos que o prontuário foi pra sala da chefia, eles acham que “Ah, agora consegui bater o pau na mesa”, mas a verdade é que a chefia enrola mais que a recepção, rsrsrs!)

Vou deixar aqui uma história, vai que te inspirar pra uma tirinha, posso enviar mais algumas, se te interessar, como fonte de inspiração…

Estava lá eu, linda e faceira na recepção, quando me chega um garoto, de lá seus… Sei lá, 25 anos! E já chega na minha mesa, bate com o punho fechado e berrando tanto que eu mal conseguia entender o que ele tava dizendo… E aí, segue a resposta pré-programada:

-O senhor tem o cartão azul do hospital?

-É DISSO QUE EU TO FALANDO, SUA PUTA, É TODO MUNDO SURDO NESSA MERDA?

-Olha, eu não estou faltando respeito com o senhor, quer dizer, VOCÊ, então você ABAIXA O TOM DE VOZ NA MINHA RECEPÇÃO, fui clara?

(paciente olha pra trás pra ver se alguém incentiva, mas só há um monte de velhinhos cochichando “se a gente tá esperando quem ele pensa que é? Na minha frente ele não vai passar, que eu cheguei antes” e etc…) …respira fundo e…

-moça, o médico pediu pra fazê o cartumazul (sic) e nufeiz (sic) praieupeganti (sic???) o cartumusus (sic!!!!)…

-O senhor faz o cartão do SUS do outro lado da rua, tem uma UBS bem ali. É lá.

-Mazintão (sic) eu fui pra vê, mas num podi semteumacontapaga (é sem espaço mesmo, eles falam tudo de uma vez, you know)

-E o que eu posso fazer, senhor? Pegue em sua casa uma conta paga e traz!

-INTÃO, VACADESGRANHA, ARREGAÇADA! EUNUMTENHO CONTA!

-Ok, senhor, perdi a paciência, o senhor fica em casa morrendo então, se vira!

(paciente impaciente aponta o dedo na minha cara)

-CÊNUMFALAASSIM CUMEU NÃO, QUE EU TOLHIPAGANU, VAGABUNDA, FAZTEUTRABALHOQUIEUTOPAGANO!

(já mandando tudo pro inferno, retruco)

-VAGABUNDO É VOCÊ, SEU MERDA, NÃO PAGA UMA CONTA, VIVE DE GATO DA ÁGUA E DA LUZ QUE EU PAGO, IDIOTA, FAZ O SEGUINTE, PRA VOCÊ NÃO VOU TRABALHAR, CERTO?

(puxo uma moeda de 25 centavos do bolso – era a grana que eu tinha)

-Toma, tá aqui a parte do meu serviço que você acha que pagou. E tô sendo legal, pode ficar com os 15 centavos que seriam o troco.

Paciente sai xingando Deus e o mundo… Mas me deixa em paz!

 Se quiser mais contos, diga, que eu mando! (Resposta do Doutor: QUERO SIM!!! \o/)
Abraços!

Alê Lobo

(Servidora pública em auxílio-doença pela psiquiatria… Juro que fiquei louca!)


15 respostas para “Papo Médico #4”

  1. Uma vez foi um vagabundo no hospital querendo atestado,a medica recém formada negou.
    Então ele disse que voltaria no outro dia pra matar ela.(Que absurdo).
    Ela acabou saindo do hospital,nao ficou nem um mês.
    Terrivel essas coisas.
    Abraços!

  2. Na pediatria rola muito o seguinte : A genitora leva o pirralho resfriado à urgência, normalmente por volta das 18 horas. Após a consulta, onde o resfriado é confirmado, ela diz :” Olhe, o sr. não pode me dar um atestado ? É que eu tive que ficar o dia todo com ele”. Digo sempre que não, que não havia necessidade dela ter faltado trabalho por conta do resfriado do filho. Aí, começa o melodrama : “Ah, mas é porque o sr, não tem filho”. Respondo que tenho e não uso doença do meu filho pra justificar vagabundagem. “Ah, o Sr. é muito insensível, é médico pra cachorro”. Respondo : “Não sei se a sra. percebeu, mas isso aqui é um serviço de urgência.Sou pago para atender emergência, não para ser sensível”. É como eu disse no outro post (da necropsia), o que diferencia um país de primeiro mundo do de terceiro,não é dinheiro, é a mentalidade predominante na população. E a mentalidade aqui é a do jeitinho, de ser dar bem a despeito do coletivo, de enrolar os outros. No Brasil, a maioria só quer direitos. Dever, esse deve passar longe, na cabeça da maioria. Não existe pensamento mais porco que esse : “Se eu pago por um serviço, então posso avacalhar”. E creiam, esse é o pensamento predominante nos novos “emergentes”, ou “nova classe média”.
    È por isso que se julgam no direito de chegar à urgência dos plano às 2 da madrugada para mostrar parasitológico de fezes (acredito porque aconteceu com conhecido meu). É por isso que jogam os filhos nas escolas e, quando o filho reprovam vão dar piti na escola, ao invés de avaliarem a própria responsabilidade no episódio. E etc. Dá pra passar o dia escrevendo sobre esse tema. Fica pra depois.kkk

    • E quando você pede algum exame e o paciente pede atestado para “correr atrás” dos exames….clássico! Kkkk….

      • Por aqui, o atestado tem motivo interessante: “ah, eu sei que ainda daria tempo de ir trabalhar, mas é que eu tenho que ir no banco e fazer um monte de coisa no centro…” (tem que respirar fundo e fazer cara de paisagem)…

  3. Como é a educação dos aluninhos…
    Você entra na sala e pega o Fulano com a mão na sua bolsa.
    Pergunta: “Fulano, o que você está fazendo com a mão na minha bolsa?”
    Resposta: “QUÊ??? NUM TÔ FAZENO NADA ERRADO! SÓ VIM PEGÁ A BORRACHA! OLHA DIREITO! TODO MUNDO BAGUNÇANO E VOCÊ VEM FALÁ DE MIM QUE TO QUIETO!”

    Aí o Fulano fica doente, dá uma folga pra gente e vai encher a paciência de vocês…

  4. Opa! Valeu pelo carinho, seu dotô! (hehehehe!)…e pode esperar que amanhã já vai ter duas novas, curtinhas, mas boas!

    • Adorei o complemento: (a funcionária doida). Hehehe! Só fizestes o que a maioria de nós tem vontade de fazer… Uma das agentes comunitárias de saúde com quem já trabalhei um dia ouviu essa… “tou pagando teu salário!” Sabe o que ela respondeu? “então me dá um aumento que tá me pagando muito mal…”

      • Fora quando a vontade é de provar por A+B que a gente tá mais é pagando pra trabalhar, né! bjo!

  5. Funcionário público sofre mesmo – trabalho no setor de tributos de uma cidade de SP, e apesar de apenas trabalhar como auxiliar administrativo, ou seja, não decido NADA quanto à tributação dos impostos (tarefa realizada pelos políticos…), sempre acabo ouvindo gracinhas e humilhações por “ser culpa de vcs!!!”, “vcs não fazem nada, só vagabundeiam”, “pago seu salário!” e por aí afora…

    • Meu caro, o problema do funcionalismo público é o seguinte : Normalmente o concursado ganha mal, trabalha muito aquém das condições ideais e ainda é vítima da gerência de um nomeado, comissionado e que normalmente não entende PN da função. Esse comissionado, para camuflar sua incompetência ainda inventa meio mundo de inutilidades para mostrar sua “competência” e geralmente essas invenções pioram ainda mais o que já é caótico. E esse comissionado vem de marte ? Não! É indicação política! Por isso os governos, independente de partidos, tentam vender a ideia que o caos do serviço é culpa dos funcionários, quando o problema é de gestão!!!

  6. Colegas: quando isso acontecer com vocês procurem uma delegacia de polícia assim que possível e prestem boletim de ocorrência. Em seguida entrem com representação com advogado para processo por danos morais e talvez físicos. Junto o máximo de testemunhas possível, abra logo a porta do consultório, grave ou filme em seu celular. Falo isso por experiência própria. Nunca admiti em minha vida ser tratada com tamanho desrespeito e não fiz juramento algum de aceitar ser coberta de xingamentos por senhor ninguém. Sei bem como é trabalhar em ambiente de alta tensão. Aprontou comigo é polícia na hora, nem titubeio.
    Uma situação dessa me levou à fazer faculdade de Direito e lá estou com sangue no olho em defesa das vítimas desses sociopatas.

  7. Adorei seus comentários EZEQUIEL, sou funcionaria pública, e é isso mesmo que vejo… Acho que deveria existir uma Lei PROIBINDO esses cargos de direção por indicação…
    Acho que a indicação deveria ser feita por quem está trabalhando no setor…..

  8. Poxa, podia ter dado voz de prisão pro cara e chamado a polícia…

    Tudo bem que é crime de menor potencial ofensivo, mas ele ia matutar bastante na cagada que fez quando tivesse que prestar serviços à comunidade.

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